“Tá Cruel”: Crise na economia faz açougue em Cuiabá vender muxiba de boi a R$ 0,99

DA REDAÇÃO:LEIAMT

Mato Grosso é dono do maior rebanho bovino do Brasil, mas isso não impediu que a crise da carne atingisse também a população do estado. Cenas como as que ganharam o país na última semana, com fila enorme de pessoas em busca de doação de ossos com resquícios de carne, tem se reproduzido. Os estabelecimentos que não podem ajudar com doações, cobram valores simbólicos por peças que antes do aumento da fome não teriam valor nenhum. É o que acontece em um açougue localizado no bairro Sol Nascente, em Cuiabá, que passou a vender muxiba de boi no valor de R$ 0,99. O produto antes era procurado para a alimentação de cães.

O açougue vende cerca de 10 quilos por semana. A procura pela muxiba, segundo a proprietária do local, ainda é baixa. Questionado por qual motivo o que antes era doado começou a ser vendido, ela responde que foi devido à crise econômica.

“As vendas caíram com aumento da carne. Então resolvemos colocar esse valor significativo de R$ 0,99 centavos para ajudar nas despesas. Tudo subiu, até as embalagens que antes pagávamos R$ 30 reais no pacote de cinco quilos, está em média R$ 60 a 70 reais. A bobina picotada que usamos para embalar a muxiba e outros cortes, subiu de R$ 30 para R$ 100 reais”, comentou a comerciante que preferiu não ter o nome divulgado.

Segundo dados divulgados na semana passada pela consultora LCA Soluções Estratégicas em Economia, de todos produtos em alta, o maior até agora é a carne bovina, que atingiu 17,6%.

Na semana passada um açougue na região do CPA II foi destaque no portal UOL após pessoas formarem uma fila quilométrica na frente do estabelecimento para receber doações de ossinhos. Segundo os proprietários, o açougue já faz as doações há 10 anos para pessoas sem renda em estado de vulnerabilidade social, mas nas últimas semanas a fila aumentou muito.

Funcionários do estabelecimento disseram que as pessoas chegam até duas horas antes da distribuição, que acontece sempre 11h. As doações acontecem três vezes na semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras.

Para o economista e professor da Universidade de Mato Grosso (Unemat), Mauricio Munhoz, a alta da proteína é devido à grande procura externa. Segundo ele, o avanço no controle sanitário e ambiental também contribuem pela procura da proteína brasileira pelos países em desenvolvimento e principalmente pela China.

“A carne é mercado, é commodities, como soja e o algodão, é uma mercadoria qualquer do comércio e tem que conseguir o melhor preço, inclusive é nossa mercadoria de trabalho no estado. Os produtores buscam a melhor renda, quando abre para exportação e o dólar aumenta é evidente que é muito melhor vender para o mercado externo do que vender para o interno, pelo preço do dólar e nós ficamos em segunda opção. O que se torna uma contradição, Mato Grosso que é o maior produtor bovino do país”, comenta. 

O economista lembra que a alta da inflação e a pandemia também tem contribuído para aumento dos produtos da cesta básica e que isso contribui para a escassez de comida para as famílias em estado de vulnerabilidade social e baixa renda

“ A inflação voltou a subir e ela vai ser nosso principal drama se continuar subindo. Muitas famílias já não têm condições de colocar carne no prato, na verdade muita gente não tem condições de colocar comida na mesa, então esses episódios de venda de muxiba, da fila do ossinho, embora não seja de agora, mas que está aumentando por conta da economia em função da pandemia está levando muita gente para extrema pobreza. Mas a carne, como Mato Grosso é o grande produtor, não deveria ter isso, deveria ter um preço acessível para mato-grossense, mas a lógica não é essa, é puramente de mercado, como soja e algodão”, completa Maurício.

fonte;hnt

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